Marllus
Marllus Cientista da computação, doutorando em educação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 4

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 4
Canteiros agroecológicos. Foto by Razões para Acreditar

Para a agricultura convencional, o estudo da interação entre as espécies em um contexto de comunidade sempre focou na minimização de fatores da parte da espécie cultivada, como ervas adventícias, pragas herbívoras, dentre outros. O incentivo ao uso da monocultura foi um dos pontos criados para fortalecer essa ideia, onde um padrão (genético, químico, etc.) é o ponto chave para otimização da produção de alimentos em larga escala.

Diferentemente dessa ideia, os agroecologistas trabalham no sentido de incentivar “os laços” naturais entre as diferentes espécies da comunidade. Para isso, uma das bases cruciais para esse fortalecimento são as interferências de adição/remoção, onde as relações entre as espécies podem tanto promover benefícios entre elas como a alteração do próprio microclima dentro do sistema de cultivo.

O entendimento da complexidade dessas relações é um dos desafios enfrentados por pesquisadores da agroecologia na busca da melhoria contínua dessas interferências. Há um consenso na literatura da ecologia de que o princípio da seleção para coexistência se sobrepõe ao da exclusão competitiva, ou seja, que as interferências entre espécies em um mesmo habitat se dão muito mais no sentido de compartilhamento entre recursos do ambiente para permanecerem na mesma comunidade.

O sistemas que têm como base comunidades de culturas mistas oferecem para os agroecologistas pontos cruciais para estudos na área da coexistência entre espécies. Uma dessas relações entre culturas bastante vista em ambientes naturais é o mutualismo. Neste, as interações se dão tanto de forma endo/exossimbiose como indireta. O que irá tipificar a sua forma será o tipo de dependência entre as culturas, se total ou parcial, e se existem “efeitos colaterais” desse mutualismo no meio que as cerca. Os mutualismos em agroecossistemas são benéficos pois aumentam a resistência do sistema aos impactos negativos de pragas, doenças e ervas adventícias.

Outro tipo de interferência benéfica entre espécies está no contexto dos cultivos de cobertura, os quais são gramíneas ou leguminosas que cobrem o solo num período ou durante o ano todo. Estas reduzem a erosão, fixam o nitrogênio atmosférico e melhoram a saúde do solo (cobertura viva – interferências de adição/remoção), além de poderem ser incorporadas ao mesmo, como forma de adubo verde. Os cultivos de cobertura ajudam, acima de tudo, a diminuir a dependência de interferência humana e de insumos externos para o desenvolvimento do sistema. Além disso, o manejo adequado das ervas adventícias, a atração de insetos benéficos ao ambiente e o cultivo consorciado são práticas que podem ser usadas no desenho de sistemas agroecológicos, pois levam em consideração toda a diversidade das interações entre as populações na comunidade.

A utilização do conhecimento do agrônomo sobre ecologia e ao manejo adequado de um única espécie com as habilidades do ecologista, sobre os aspectos das mais variadas associações e processos existentes entre as culturas, é o desafio enfrentado pelos agroecologistas na inserção do conhecimento ecológico para a promoção da sustentabilidade em ambientes de cultivo de alimentos.


1. Quais são algumas das principais dificuldades para convencer os produtores convencionais das vantagens potenciais de manejar sistemas complexos de cultivo, com diversas espécies?

  • A falta de abertura para inovação no cultivo de espécies em forma de policultura;

  • O conhecimento já consolidado por muitos produtores sobre ciclos de cultivo impedem que muitos destes alterem sua forma de produzir;

  • A falta de interesse em abrir mão de certos “benefícios”, como os fertilizantes sintéticos ou agrotóxicos que parecem “solucionar” os problemas de seus cultivos de forma eficaz.

3. Descreva um exemplo de como a coexistência e os mutualismos em uma comunidade de culturas podem ser essenciais para o sucesso de um mecanismo de controle biológico para uma determinada praga.

Pode-se cultivar as espécies vegetais angélica e erva doce para atrair joaninhas (relação mutualística – pólen) e, consequentemente, induzi-las a fazerem o controle biológico de uma população de pulgões no meu cultivo de couve.

5. Descreva uma comunidade complexa de culturas, como populações de plantas produtivas e adventícias, que permite uma redução significativa no uso de produtos químicos agrícolas sintéticos, não renováveis. Explique a contribuição feita por cada membro à comunidade cultivada.

Cultivo de alho japonês como controle alelopático ao pulgão da couve manteiga juntamente com o cultivo de moringa nas extremidades para fixação de nitrogênio. Este também será utilizado como adubação verde, por meio de suas folhas em um canteiro de coentro e cebolinha. Neste último canteiro, a população abundante da erva adventícia cyperus rotundus (tiririca) seria usada como biomassa cultivada alimentar (sim, ela é uma Planta Alimentícia Não Convencional - PANC).


Resumo e respostas do capítulo 15 - “Interações de espécies em comunidades de culturas” do livro “Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável”. Stephen R. Gliessman. 2001”.
Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior - POLEDUC/UFC. Ano: 2018
Disciplina: Agroecologia