Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 3
Desde o surgimento da agricultura, o cultivo e a criação de plantas e animais tem sido possível através de técnicas de uso e manejo do solo e do próprio controle com sucesso do ciclo dessas culturas. Logo, o ser humano evoluiu nessas práticas e intensificou a melhoria genética do que mantinha.
A engenharia genética, uma das mais recentes descobertas nesse contexto, foi um desses recursos criado com o objetivo de “alinhar” biologicamente uma espécie de cultivo, tornando ou empoderando-a com características específicas para seu “sucesso” ambiental, objetivando seu aumento de produtividade. Porém, o uso indiscriminado desse recurso vem transformando a policultura ambiental natural em espécies com bases genéticas cada vez mais simplificadas, necessitando obrigatoriamente de insumos externos para sua sobrevivência, neste novo habitat controlado.
O conceito de seleção dirigida, alicerce para o entendimento da engenharia genética, está no fato de o ser humano “dirigir” a evolução de uma ou mais espécies, dentro de um contexto ambiental. Ele passou a alterar, manejar e controlar o ambiente no qual esses organismos viviam, desde à práticas não intencionais de seleção de características, até a geração de uma semente híbrida super resistente à herbivoria. Nesse sentido, a seleção dirigida distingue-se da seleção natural, onde, na primeira, a própria natureza é quem seleciona os mais adaptados cultivares em um contexto ambiental.
Dentre os métodos de seleção dirigida, tem-se a seleção massal, a qual é a menos impactante, no sentido do nível de intrusão genética à espécie cultivada. Os agricultores que a praticam selecionam as sementes baseado em comparações de eficiência produtiva, como o tamanho da parte comestível ou resistência a determinadas pragas e perturbações climáticas. Uma das maiores vantagens dessa prática é o manutenção da variabilidade genética dessas espécies.
A hibridação e biotecnologia deram um salto nesse poder intrusivo na genética dos cultivares. Agora é possível a manipulação genética entre espécies distintas, inclusive entre vegetais e animais. Como consequência, tem-se a perca da diversidade genética por causa da criação de organismos idênticos, com as mesmas características de resistência ambiental; esterilidade (a partir da segunda geração dessas sementes) e genótipos idênticos (sem variabilidade genética).
Um dos pontos vantajosos (e talvez o único) do melhoramento moderno de plantas está no fato da oferta cada vez maior de alimentos para uma população que cada vez mais cresce, porém, os reflexos relacionados às práticas dessa “modernidade” impactam muito mais na preservação do próprio planeta e da espécie humana. A perda da diversidade genética (e com isso a vulnerabilidade genética ambiental), o aumento de dependência à insumos externos, a perda de recursos genéticos (que poderiam ser adquiridos através de seleção massal) são somente alguns desses pontos.
Nesse contexto, a conservação de sementes crioulas em seus respectivos locais onde foram estabelecidas (in situ) e em casas de armazenamento e laboratórios (ex situ), a promoção de melhoramentos com seleção massal (preservando-os de forma mais durável), além da conservação de espécies não agrícolas e seus parentes silvestres fazem parte da estratégia da agroecologia na aplicação do conhecimento ecológico ao desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.
1. Como manejar ecossistemas sustentáveis por meio de técnicas de seleção dirigida?
Através de técnicas de seleção massal, onde pode-se preservar uma espécie garantindo a sua variabilidade genética.
2. O que diferencia seleção natural de seleção dirigida?
A segunda reside no fato de o ser humano conduzir o processo de melhoramento das espécies ao longo do tempo, enquanto que na primeira é a própria natureza quem o regula.
3. Qual a diferença entre variedades crioulas e melhoradas?
Está intrinsecamente no fato de nas primeiras existirem variabilidade genética, enquanto que esse “melhoramento” nas segundas tende a uniformizá-las.
4. O que é resistência durável?
Leva em consideração a manutenção de toda a população do ambiente cultivado, ao invés de somente o foco na solução de problemas específicos de uma espécie sem levar em consideração o todo.
5. Por que não existe genótipo resistente?
Porque o próprio processo de seleção garante que um genótipo/fenótipo, antes resistente a uma determinada perturbação, pode não ser imune a outros tipos de perturbações externas.
6. Por que o melhoramento local é importante para agricultura sustentável?
Porque mantém a flexibilidade local (condições do ambiente, irrigação, solo e fertilização e problemas bióticos) na resistência ao ambiente.
Resumo e respostas do capítulo 14 - “Recursos genéticos em agroecossistemas” do livro “Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável”. Stephen R. Gliessman. 2001”.
Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior - POLEDUC/UFC. Ano: 2018
Disciplina: Agroecologia