Marllus
Marllus Cientista da computação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 1

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 1
Práticas sustentáveis na agricultura. Sertão de Irauçuba-CE. Foto Allan Lustossa/Caritas

Gliessman se refere às práticas da agricultura convencional, discorrendo sobre os objetivos intrínsecos a ela, os quais são a maximização da produção e lucro, e identifica seis práticas básicas que contribuem para a manutenção da insustentabilidade deste sistema de produção, sendo estas consideradas o conjunto da espinha dorsal da agricultura moderna, as quais são: cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizante inorgânico, controle químico de pragas e manipulação genética de plantas cultivadas. Todas essas práticas estabelecem relações dependentes entre os processos externos relacionados à cadeia de produção, o que acaba por comprometer a produtividade futura em favor da produtividade presente. Para ratificar estas informações, o autor expõe diversas referências sobre a taxa de degradação do solo, desperdício e uso exagerado da água, poluição do meio ambiente, dependência de insumos externos, perda da diversidade genética, perda do controle local de produção agrícola, desigualdade social, além de fornecer dados estatísticos de que o rendimento da produção agrícola nos moldes convencionais não acompanhou (e até estagnou) desde sua implantação e ascendência inicial (1975-1994).

Gliessmann segue para o final deste capítulo abordando os princípios da agroecologia como resposta à afirmação na qual a agricultura do futuro deverá ser tanto altamente produtiva quanto sustentável para alimentar a crescente população humana. Para isso, as práticas agrícolas convencionais devem ser preservadas (bem como resgatadas) a fim de alinhá-las aos modernos conceitos ecológicos, alcançando uma agricultura ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável, por meio da aplicação dos conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.

No tocante ao capítulo 2, o autor estabelece como discussão os agroecossistemas, utilizando como metodologia para tal a comparação, estrutural e funcional, com os ecossistemas naturais. Segundo ele, um ecossistema é um sistema estável de relações funcionais arbitrárias entre diversos organismos vivos e seu ambiente, o qual gera um equilíbrio dinâmico onde todos estes estão ligados em que podemos chamar de níveis de organização (e que compõem o ecossistema), os quais são: organismo, população e comunidade.

O autor também propõe conceitos referentes a estes níveis de organização, como os das propriedades estruturais das comunidades, relacionando a teoria sobre a diversidade das espécies, dominância e abundância relativa, estrutura trófica e relativa e estabilidade como propriedades cruciais para o entendimento da estrutura dinâmica e estável do ecossistema. Na grande maioria das vezes, estes detém propriedades de resiliência à perturbações externas, o que proporciona a geração do equilíbrio dinâmico, cujo é a base para a sua estabilidade ao longo do tempo.

A grande diferença entre um agroecossistema e um ecossistema natural está na presença de manipulação e alteração humanas no primeiro. Para demonstrar tal afirmação, o autor cita tópicos considerados pontos-chave nessa abordagem, onde estão relacionados à presença humana no que tange a “usurpação” da energia do sistema através da colheita, à perca de nutrientes do solo por meio de lixiviação ou erosão e a perca da estabilidade do sistema pela baixa resiliência influenciada pela dependência de insumos humanos externos.

Com relação ao sentido de agroecossistemas sustentáveis, ou seja, que mantém as qualidades de um ecossistema natural, há uma série de desafios a serem alcançados em sua implementação, como na diminuição da dependência de recursos não renováveis, na adequação ao fechamento do ciclo de nutrientes e na utilização de mecanismos reguladores de população.


O autor relaciona o conceito de ecossistema a produção de alimentos propondo o conceito de agroecossistema. Eles podem podem ser efetivamente associados? Quais seriam as limitações de sua associação?

Sim, podem ser associados. Os agroecossistemas podem ser relacionados aos ecossistemas naturais no que tange aos aspectos estruturais, ou seja, suas partes e relações entre elas, e funcionais como sendo os processos dinâmicos que ocorrem dentro destes sistemas. Com relação aos aspectos estruturais, podemos citar a caracterização dos níveis de organização e associar aos agroecossistemas, como por exemplo: Organismo => plantas cultivadas individuais; População => população de espécies cultivadas; Comunidades => comunidades de áreas cultivadas e Ecossistema => Agroecossistemas como um todo.

As limitações decorrentes da associação entre os dois sistemas estão intrinsecamente relacionadas às práticas de estabelecimento de princípios sustentáveis para a manutenção do agroecossistema, pois mesmo sendo possível a associação entre ambos, os fatores limitantes, como fluxo de energia, ciclagem de nutrientes e regulagem de populações, entre um sistema e outro, determinam o quão relacionado e próximo está um agroecossistema de um ecossistema natural.

Como ficam processos e propriedades nesse novo contexto? Serão estáveis? O que seria estabilidade nesse contexto?

Nesse contexto, processos e propriedades são alterados, pois os dois sistemas podem ter estruturas similares, mas contém paradigmas funcionais e estruturais distintos, como exemplo as seguintes diferenças: Produtividade líquida, interações tróficas, diversidade de espécies, diversidade genética, ciclo de nutrientes, estabilidade, controle humano, permanência temporal, heterogeneidade do habitat. Em todos esses pontos a relação nestes dois sistemas se distancia pelas práticas convencionais adotadas em agroecossistemas. Neste caso, a estabilidade desse sistema, no que se refere à habilidade deste de se recuperar e resistir à perturbação externa, é bem pequena. Isso se deve muito ao fato da sua reduzida diversidade funcional e estrutural.

Para uma agroecossistema ser estável, o mesmo deve ser desenhado levando-se em consideração e tentando-se “imitar” características estruturais e funcionais semelhantes as do ecossistema natural, na tentativa de torná-lo um sistema cada vez mais sustentável, ou seja, que incorpore as qualidades de resiliência, estabilidade, produtividade e equilíbrio ecológico que sustentará melhor a sua implantação e manutenção no ambiente.


Resumo e respostas dos capítulos 1 e 2 do livro “Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável”. Stephen R. Gliessman. 2001”.
Capítulo 1 – A necessidade de sistemas sustentáveis de produção de alimentos
Capítulo 2 – O conceito de agroecossistema
Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior - POLEDUC/UFC. Ano: 2018
Disciplina: Agroecologia