Marllus
Marllus Cientista da computação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Uma análise sobre o perfil das IES brasileiras

Uma análise sobre o perfil das IES brasileiras
Gráfico 1 - Elaborado pelo autor

Conforme o Gráfico 1 apresentado acima, percebe-se que a quantidade de programas de Mestrado/Doutorado no país, entre os anos de 2013 e 2016, situam-se predominantemente nas regiões sul e sudeste, além disso, em números absolutos, o aumento do número destes programas foi bem superior nessas regiões, podendo-se destacar os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A razão do crescimento/decrescimento no período com o total foi calculada a fim de melhor representar a quantidade de programas criados/fechados entre estes anos, por Unidades Federativas.

Uma possível explicação de o estado de São Paulo ter o maior número de programas é o fato de sua referência nacional em nível de pesquisa, a citar a Universidade de São Paulo (USP) como a melhor avaliada da América Latina (até o ano de 2016), Unicamp (como primeira colocada em 2017), Unifesp, Unesp e Ufscar (também na lista). A diferença chega a ser mais que o dobro do número de programas, em comparação com o Rio de Janeiro (A quantidade de habitantes pode contribuir como variável explicativa do fenômeno – SP tem mais que o dobro em habitantes do que o RJ). Em crescimento, SP, RJ e RS se mantiveram com 0.18 do total, ou seja, 33 dos 61 novos programas criados entre 2013 e 2016 são desses três estados. A explicação dos estados RJ, RS e MG ficarem com crescimento em paridade com SP também pode ser relacionado com o fato destes estados reunirem várias IES na lista das 20 melhores da América Latina (a citar UFRJ, PUC-Rio, PUC-RS, UFMG, UERJ).

O Distrito Federal também possui Universidade na lista das melhores da América Latina (UNB), porém, apresentou tanto números pequenos em quantidade de programas quanto baixo crescimento no intervalo (2/61). O número de habitantes e PIB pode estar relacionado a estas variáveis, portanto, uma análise em números relativos poderia representar melhor a distribuição total. O cauda do gráfico que representa o restante dos estados brasileiros estão abaixo de 100 programas por UF, além de o crescimento de cada uma ter ficado abaixo de 0.05 (3 programas), com exceção do estado de Sergipe, o qual foi o único que teve um aumento de 3 programas no intervalo.

A distribuição fica mais simétrica se for realizada a análise em nível de cauda do gráfico (a partir de SC até o AP). O número relativamente pequeno tanto em programas quanto em crescimento pode ser explicado pelo fato de não ser comum Universidades Federais nesses estados distintas em municípios que não sejam a capital, logo, esses programas de mestrado/doutorado são priorizados em um só município (capital), pela longa experiência e tradição destas. Um exemplo é o estado do Ceará (com estimativa de 9 milhões de habitantes para 2017) e ter somente duas Universidades Federais distintas da UFC, as quais são UFCA e UNILAB (criadas em 2013 e 2010, respectivamente). Levando-se em consideração o estado de MG, esse número salta para 13.

Percebe-se uma distribuição assimétrica com relação aos programas de mestrado/doutorado no país, por Unidade Federativa no país. Apesar disso, uma análise relativa por número de habitantes, PIB e número de Universidades Federais os resultados poderiam alterar drasticamente, gerando uma distribuição com tendência simétrica.

Gráfico 2 - Elaborado pelo autor
Gráfico 2 - Elaborado pelo autor


O Gráfico 2 apresenta a distribuição dos docentes nas IES do Brasil por grande área do conhecimento. Ressalta-se a grande quantidade de docentes com status permanente na distribuição, em comparação com colaborador e visitante. Esse resultado pode ser explicado por dois fatores: O boom de concursos públicos criados com vagas para docentes em IFES do país, desde o início do governo Lula - 2003, além da expansão das Universidades e Institutos Federais com o REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), o que ampliou o número de IFES no país, consequentemente, o número de vagas disponíveis tanto para alunos como professores.

O pequeno número de docentes colaboradores, em comparação com permanentes, pode ser explicado pelo fato de que a CAPES relatar que “o número de professores colaboradores não poderá ultrapassar a 30% do total de professores do programa.”, além disso, um dos critérios para ser professor colaborador é o mesmo ainda não ter 2 anos completos da conclusão de seu Doutorado. Essas variáveis podem explicar esse baixo índice de professores colaboradores nas IES do país.

Outra unanimidade foi o baixo número de docentes visitantes, em todas as áreas. No gráfico foi colocada a quantidade numérica para melhor demonstrar a variação desse número. Segundo a CAPES, docentes visitantes “são considerados aqueles com vínculo funcional com outras instituições e que sejam liberados das atividades correspondentes a tal vínculo para colaborar, por um período contínuo de tempo e em regime de dedicação integral, em projeto de pesquisa e/ou atividade de ensino no programa, permitindo-se que atuem como orientadores e em atividades de extensão.”. A baixa quantidade de docentes visitantes pode ser explicada pelo baixo incentivo aos docentes, por parte das IES, de colaboração física com outras instituições, indo na contramão do ensino superior em países desenvolvidos, em que pesquisadores são pagos pelas universidades e instituições educacionais/governo e incentivados à cooperação acadêmica em outros países.

A maior quantidade de docentes na área das Ciências da Saúde pode ser explicada pelo maior agrupamento de vários sub programas em torno dessa grande área, como Medicina, consequentemente possuíram um maior tempo para crescimento e expansão do número de docentes. Ao contrário dessa análise, temos a área de Engenharias, onde compreende as sub áreas Engenharias I, Engenharias II, Engenharias III e Engenharias IV, que vai desde Engenharia Civil (área tradicional) à Engenharia de Computação e Robótica (mais recentes). O menor índice, na área de Linguística, Letras e Artes, compreende somente duas sub áreas (Artes/Música e Letras/Linguística), reafirmando essa possível causa explicativa.

Em termos relativos, pode-se considerar que a distribuição de docentes em todas as grandes áreas segue sem discrepâncias estatísticas, porém, é percebido claramente a assimetria da distribuição, confirmando seu caráter desigual no que tange o espalhamento de docentes atuantes nas grandes áreas educacionais em IES brasileiras.

Gráfico 3 - Elaborado pelo autor
Gráfico 3 - Elaborado pelo autor


No Gráfico 3 é demonstrado o percentual de estudantes de mestrado da região Nordeste, por IES, entre os anos de 2013 e 2016, onde cada cor é uma série temporal. Por motivos do grande número de IES, algumas delas tiveram seus nomes suprimidos da abscissa, no entanto seus valores estão dispostos no gráfico.

Pode-se perceber a tendência, em cada ano, da distribuição dos discentes em todas as IES apresentadas, onde UFPE e UFBA detém entre os maiores percentuais de estudantes no intervalo, entre 10 e 13% do total de cada série. Um ponto importante a ser observado é no que diz respeito às IES UFPB/JP, FUFSE, FUFPI e UFAL, as quais obtiveram crescimento de 0.15% a 0.31% (o que representa de 212 a 430 discentes). Na UFPE, UFBA, UFRN e UFC (com os maiores percentuais), ocorreu o inverso, uma diminuição do percentual. Isso pode ser explicado pelo fato de as IES que aumentaram estarem no estágio de emergência (em desenvolvimento), no que tange à criação de programas de pós-graduação.

Se confrontado o Gráfico 3 com o Gráfico 1, pode-se ratificar essa explicação, onde PE, BA e CE, apesar de serem os estados com os maiores PIBs do nordeste, representaram aumentos insignificantes ou nenhum (caso do PE), enquanto que nos estados PB, SE e AL, apesar de um menor número de habitantes, se igualaram e até ultrapassaram os níveis dos anteriores em criação de programas de Mestrado/Doutorado. O estado de Sergipe, citado nas considerações do Gráfico 1, cujo aumento foi uma exceção (3 programas), foi o que apresentou um dos maiores percentuais desses estados “emergentes”, tendo aumentado 332 discentes de mestrado entre 2013 e 2016. Esse resultado somente reforça a fidedignidade dos dados analíticos apresentados pela plataforma GeoCapes.

Percebe-se que a distribuição dos percentuais de estudantes de mestrado segue assimétrica, com os maiores níveis, como previsto, em Instituições Federais de Ensino Superior, pelo fato de apresentarem, historicamente, maior apoio à ciência no país, com políticas de incentivo do Governo Federal. Instituições de Ensino Superior Privado e Institutos Federais têm menores índices por, historicamente, não serem ativos no que diz respeito ao incentivo à pesquisa, como realizado nas Universidades Federais e Estaduais.

Referências:

https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/Criterios_APCN_Direito.pdf
https://docs.uft.edu.br/share/s/fYc40iQ2SRuJL2cswjLYEQ
Lista de universidades federais do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre
Lista de unidades federativas do Brasil por população – Wikipédia, a enciclopédia livre


Relatório final de trabalho.
Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior - POLEDUC/UFC. Ano: 2018
Disciplina: Tecnologia da Informação aplicada às IES.