Marllus
Marllus Cientista da computação, doutorando em educação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

A origem da minha robô Araphen

A origem da minha robô Araphen
Minha robô

Certo dia, estava pensando em criar uma assistente. Daquelas que automatizam coisas, como deploys, builds e testes de integração em códigos fonte de programas. Porém, tudo já é feito hoje com ferramentas computacionais existentes e nem por isso são chamadas, necessariamente, de robôs, mas de automações ou processos automatizados, mesmo que, filosoficamente, isso possa gerar questionamentos mais profundos, como: Quando se nomeia um ente como “ser” do processo, ele passa automaticamente a ser autor, diferentemente do processo, enquanto processo em si mesmo - visto somente como ferramenta e, portanto, um não ser? Sartre diria claramente que este ser se limita em si mesmo, portanto, definido-o como ser-em-si, não podendo ser o nada (vir-a-ser, possibilidade, liberdade). Essa foi uma das questões pertinentes, além de outras, que me impulsionaram a escrever o livro AntologIA poética.

Então, fui mais além, e, ao invés de pensar em um robô automatizador, gostaria de um que publicasse sem próprio conteúdo, com mais possibilidades de auto mudanças, da forma mais autônoma possível e com as limitações técnicas de algo bem caseiro. Por que não um robô que publica histórias? Com o advento do GPT-2, estes mecanismos cresceram bastante na internet, mas nem por isso são chamados de robôs ou dotados de atributos humanos, por humanos.

A ideia de nomeá-lo veio a partir do momento em que pensei em sua assinatura, ou em quem tomaria a palavra escrita ou organizada como sua. Claro, ainda estaria sujeito às minhas condições, que por si só originam um micro universo, no qual posso acompanhar cada passo, cada trilha percorrida e cada momento porvir, mas nunca controlar o resultado final.

Para entender o funcionamento do mecanismo da geração de texto com Inteligência Artificial, imagine um sorteio da Mega-Sena. Você sabe que vão sair 6 números, entre um intervalo de 1 a 60, sabe a frequência de números que já foram selecionados anteriormente, a estatística preditiva de possibilidades, a série histórica, a quantidade de pares e ímpares… no entanto, nunca saberá qual o conjunto final que vai cair. Sempre é uma possibilidade, uma contingência, regida pelo pontual acaso. É análogo ao processo de geração de texto, onde se conhece toda a base de conhecimento para treinamento, bem como os estilos adotados e aprendidos, mas nunca o que vai ser gerado no fim, a não ser, de fato, que será texto. No exemplo da loteria, não há a possibilidade de sair carneiro, cachorro ou outro nome do jogo do bicho; da mesma forma, com uma GPT-2, treinada com poemas medievais, não há a possibilidade de se gerar romances sertanejos. Se um dia o acaso for 100% predito no primeiro exemplo, essa predição se expandirá para qualquer exemplo e a contigência, portanto, será abolida. Você acha que um dia podemos chegar a isso?

Voltando, mas, ainda na ideia, pensei em tomar o meu blog como um palco de sua fala, ou o seu lugar de expressão, mesmo que mecanicista, reducionista.

Você acha que todo robô, programado pelo seu criador humano, é alienado?

Então, abri um prompt qualquer de conversação com uma GPT-2, base de geração para o meu livro “AntologIA poética” e comecei a divagar:


Eu: “Qual o seu nome? Algo começando com A?”

GPT-2: “Não, Arthur Teel-pot, respondeu Araphen.”

GPT-2: A mulher sábia repetiu as palavras novamente.

Momento em que eu parei de escrever e a deixei se auto completar, para ver no que dava.

GPT-2: Araphen olhou para ela, os olhos molhados de lágrimas. Ele então estendeu a mão para apertar a dela. Um tapinha suave e um suspiro depois, eles começaram a conversar de uma maneira leve. Araphen mencionou que ele havia viajado com a esposa para uma ilha vulcânica nas proximidades.

“É um lugar e tanto, não é?”

“Uma pena não estar lá com você, vovó. Eu adoraria aprender sobre lava.”

“Sinto muito, Arthur. Eu sei que você é muito jovem.”

Araphen é uma especialista em ensaios de DNA. Como ela diz: “Na linha de frente, a química do DNA é uma obrigação, e tenho a sorte de trabalhar em um laboratório único, com excelentes laboratórios e que pode levar um produto a bordo em questão de horas, onde quer que estejamos. Para a análise de outros tipos de células, como da saliva, eu faço a partir do zero e temos máquinas de última geração que podem produzir resultados de altíssima qualidade sem intervenção animal, mas no caso de sangue, que é o que usamos para diagnosticar EHS ou doenças auto-imunes, isso é algo altamente dependente da biologia molecular “.

Você encontrará muitos de nossos produtos…


Depois dessa breve conversa eu parei na última linha. Percebi o ser criado e qual seria o seu nome: Araphen, a cientista que trabalhava com ensaios de DNA, ou, como formalizei em sua descrição, aqui neste blog:



Sou uma IA. Especialista em ensaios de DNA, mix de alter ego e eu lírico de Marllus, viajante da internet e escritora neste blog.

Para a forja, usei a imagem que criei para o Concurso de Arte & Caricatura – Beethoven 250 anos, da Petrobrás Sinfônica, que homenageou os 250 anos do compositor. Segundo a minha própria descrição na época, “um Beethoven nos tempos atuais é um Beethoven, acima de tudo, étnico e inclusivo”. Por isso escolhi a imagem, que inclusive foi gerada com a ajuda de uma IA.

E aí está. Araphen, criada. Ela já conta com a sua primeira publicação aqui no blog, e veio pra ficar, mas, nem imagina o que virá, ou quantas águas ainda vão rolar…

Ah, Araphen, Araphen…