Marllus
Marllus Cientista da computação, doutorando em educação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Subutai - Democratizando o acesso à computação em nuvem/névoa

Subutai - Democratizando o acesso à computação em nuvem/névoa
Photo by Snowscat

Fazendo alusão ao episódio em que Genghis Khan, contrariando a tradição étnica da continuidade pela linhagem familiar, decidiu tornar general de seu exército um ‘escravo’ não mongol, de nome Subutai, é que se baseia o manifesto da plataforma de mesmo nome, criada pela empresa OptDyn, e que tem como CEO o ícone Jon Maddog “Hall”.

Maddog: o 'cachorro louco'
Maddog: o 'cachorro louco'


Subutai surgiu como um contraponto ao modelo de negócio das Big Cloud, como exemplo Google (CloudPlatform), Amazon (AWS) e Microsoft (Azure), em que estas são especializadas puramente em centralização de dados, levando a seus usuários os escrutiníos diários da falta de transparência e controle dos seus próprios dados e à escuridão da infraestrutura de datacenter destes provedores. Subutai, diferentemente, foi criada com o foco na democratização do acesso e criação de ambientes em nuvem P2P. Livre e acessível a todos.

Aos invés de nós centrais na ‘grande nuvem’, subutai permite a inserção de nós alternativos na ‘grande rede’, como uma espécie de ‘torrents de cloud’. Esses nós - os usuários comuns na periferia da internet - são os grandes protagonistas neste cenário, podendo cada um compartilhar e/ou doar recursos computacionais para outros nós da rede (estratégia P2P). Esse conceito vem do Fog Computing (computação em névoa) e diz respeito à diluição do processamento computacional nas extremidades da rede, diminuindo a densidade da nuvem tradicional, o que contorna, na prática, problemas de segurança, questões legais e movimentação de infraestrutura lógica. Somente o usuário saberá onde seus dados estarão no globo.

Mas em que consiste a plataforma Subutai?
Em termos simples, trata-se de um arsenal de ferramentas computacionais dispostas à criação e configuração de ambientes de nuvem/névoa P2P de forma descentralizada e para todos. Open-source.

Estrutura da plataforma subutai.
Estrutura da plataforma subutai.


Subutai, promove oportunidades de negócios em cloud computing e internet das coisas (IoT). Para isso, conta com o KHAN Token, desenvolvido baseado no sistema de Blockchain Ethereum, e consiste em uma moeda padrão e ubíqua em todo o sisema subutai.

Usuário pode ganhar com isso
Usuário pode ganhar com isso


Isso quer dizer que eu, como usuário da rede subutai, posso ganhar dinheiro compartilhando meu recurso computacional?

Sim e não, mas sim!
Por padrão, o subutai disponibiliza uma criptomoeda aos seus usuários chamada GoodWill, porém, você somente pode usá-la dentro da plataforma, mais especificamente no Bazaar, lugar onde estão registrados todos os usuários com ou sem recursos computacionais (ideia análoga ao modelo Bazar, proposta por Eric Raymond). Por exemplo, você ganha alguns GoodWills quando se cadastra na plataforma e já pode usá-los para alugar um nó na rede, que pode ser por exemplo uma máquina virtual (VM) Debian rodando PHP+Apache+mariaDB. Tudo com IP e DNS públicos para acesso externo, semelhante a um provisionamento de VM na AWS Amazon ou a uma comum configuração de serviço de hospedagem web.

Se você quiser, pode também baixar o subutai e compilá-lo para realização de outros tipos de transações financeiras baseadas na Blockchain Ethereum, criando seus próprios tokens e assim, gerenciar contratos privados da forma que achar necessário, utilizando o conceito de Blockchain. São inúmeras as formas de monetização de usuários dentro da plataforma padrão. Cito abaixo uma lista delas:

  • Atualizar a versão do software;
  • Enviar subutai blueprints (escrever softwares) para a rede;
  • Convidar os amigos para se registrarem na rede;
  • Compartilhar ou alugar recursos com outros amigos;
  • Configurar peers (nós) no sistema;
  • Criar um novo peer no sistema;
  • Dar feedback ao usuário e relatar erros/problemas;
  • Enviar relatórios de bugs e/ou patches de erros em potencial para ajudar a tornar o sistema melhor;
  • Ajudando com documentação e traduções;
  • Permitir que os inquilinos saibam, antes do tempo de inatividade, dentro de um determinado período de tempo quando seu recurso pode ficar offline;
  • Tornar-se certificado em algum aspecto do profissionalismo do software de código aberto através de um parceiro oficial da Subutai.

Subutai é sobre compartilhar, trocar e alugar recursos de computador em uma economia de pares, de modo que o programa de recompensas será, obviamente, adaptado para garantir que todos tenham uma experiência positiva ao interagir com os outros adequadamente. [4]

Subutai Blockchain Router
Subutai Blockchain Router


Outro assunto interessante com relação ao tema é o Blockchain Router, roteador de código fonte aberto criado para ser um gateway de internet, IoT e tráfego da nuvem/névoa, além de minerador de criptomoedas da blockchain de forma eficiente e de baixo custo. Como o hardware foi criado especificamente para a plataforma subutai, a execução das instruções é bastante otimizada. A potência do equipamente é somente de 18w e já vem com o subutai PeerOS instalado por padrão.

Quando se tem o subutai PeerOS disponível, que vulgarmente é um pacote instalado em um sistema operacional GNU/Linux que serve para transformá-lo em um nó (peer) na rede, o qual pode ser baixado e configurado em um computador físico ou plataforma de virtualização (ex: virtualbox), o usuário pode compartilhar este recurso (CPU, Network, RAM e Disk) de três formas: Pública, privada e compartilhada. Na forma pública todos os usuários da rede podem utilizar seu recurso (você define se ele será gratuito ou pago [via GoodWills]); na forma privada somente você tem acesso ao seu próprio recurso; e na compartilhada o usuário compartilha seu nó com outro(s) usuário(s) específico(s) na rede, gratuitamente.

Existem dois tipos de usuários no bazaar do subutai: Os usuários e os pares. Para ser um usuário, basta se cadastrar no bazaar, ver os nós disponíveis (gratuitos ou não) na War Room (sala de guerra) e conectá-los a seu ambiente, criando/configurando o que bem entender dentro deles (sistemas operacionais, banco de dados, serviço web, etc.). Tudo isso só é permitido pela presença dos compartilhadores (pares ou nós) que disponibilizam seus recursos computacionais, onde estes definem como será a utilização dos seus ativos pelos outros usuários da rede, da forma como citei no parágrafo anterior.

Uma analogia definida no próprio site da plataforma é a de que o subutai é o Airbnb dos serviços computacionais, mesmo isso nos trazendo a ideia de que, ao relacionar subutai com essa plataforma, o usuário somente está a procura da compra/venda de recursos para promover, de forma ‘barata’, um serviço equivalente ao das grandes empresas.

Concordando ou não, subutai vai além disso, onde, com o ‘espírito libertador’, tem como princípio a utilização continuada de serviços computacionais distribuídos tendo uma moeda padrão que ‘só corre’ lá dentro, introduzindo o conceito de economia solidária e moeda social local (como o Banco Palmas e o Banco dos Cocais). Uma melhor comparação seria com uma mistura de CouchSurfing e NightSwapping, a primeira que oferece hospedagens gratuitas à viajantes e a segunda que recompensa o anfitrião com pernoites nas suas próximas viagens em troca de cada hospedagem (gratuita ou não) oferecida por ele a outros viajantes, ou seja, uma cooperação mútua.

Uma outra boa analogia do subutai é com a rede social opensource mastodon, que conheci recentemente por um grande amigo de trabalho, o sempre vanguarda às novas tecnologias Paulo Camelo(vulgo Paulim). O funcionamento dela, de modo descentralizado (modelo Federated Social Network), tem seu corpo baseado em servidores distribuídos fisica/logicamente, onde cada um tem sua criação com base em diferentes finalidades e objetivos, podendo ser administrados por diferentes pessoas, em diferentes locais do mundo. Cada usuário de uma instância (nó) pode se comunicar com outra instância da rede mastodon e vice-versa, garantindo que mesmo com instâncias lógicas diferentes e estando em servidores (hosts) distintos, a interoperabilidade ainda flui, junto com a democracia. Além disso, com um modelo de dispersão dos usuários/dados, evita-se a possibilidade de monopolização da rede por grandes instituições.

O subutai funciona de forma análoga, porém, com um objeto muito maior, onde cada PeersOS poderia dar vazão à várias máquinas virtuais ‘rodando’ várias instâncias mastodon.

Compreendeu onde quero chegar?

Ideias...
Ideias...


Imagine uma rede com milhares de recursos computacionais disponíveis (como milhares de usuários que compartilham diariamente algum recurso via torrent), muitos gratuitos, muitos pagos, com diferentes características de hardware, muitos potentes, outros nem tanto, mas, todos ligados à rede utilizando-se de uma plataforma para acesso à nuvem de forma gratuita, como o subutai. Agora imagine servidores mastodon, serviços de e-mail, storage, chats de comunicação segura, servidores web, todos hospedados e replicados nesse mar de recursos computacionais onde você tem a livre opção de migrar sua aplicação de um nó a outro no globo, pagar ou não por um recurso, além de poder chegar mais perto do ‘dono’ do ativo, ‘batendo’ até um papo com ele.

Imaginou como seria isso tudo no que tange à diminuição do elo entre cada fator da cadeia de produção, desde à energia que impulsiona o hardware até o usuário final que está lendo um texto em um blog rodando em python/Flask em uma VM em algum ponto da nuvem/névoa?
É como poder, diariamente, dar um bom dia matinal aos trabalhadores que fabricam nossas motherboards que executam nossas aplicações diárias e a noite jantar com Dennis Ritchie e Stallman juntos.
Isso é promover o capital social de Lyda Judson Hanifan, a economia solidária de Paul Singer, a agroecologia de Ana Maria Primavesi e o conectivismo de George Siemens.
O ser digital é, antes de tudo, um ser político.

Tudo isso nos remete a um conceito que defino como ‘Reforma da Nuvem’ ou a reforma agrária na rede.

Usando Subutai, somos outliers - hordas batendo nas portas do estabelecimento que tenta controlar e monitorar nossos sistemas, colher nossas atividades e rastrear nossas relações. Estamos cansados ​​do aprisionamento de fornecedores e das desagradáveis ​​surpresas de faturamento no final do mês dos provedores da Big Cloud. Não queremos ficar em dívida com instituições, corporações ou leis de governos estrangeiros. Nós não queremos ficar à mercê de hackers ou softwares comerciais de código fechado com backdoors. Queremos uma existência segura e produtiva no maior mercado digital, a Internet, que deve capacitar a todos nós, mesmo aqueles que tentam ganhar dinheiro. Reforçada coletivamente com tecnologias abertas, incluindo Computação em Nuvem Peer-to-Peer (P2P) e Blockchain, a horda possui recursos suficientes para superar o poder de um milhão de Amazons e Googles enquanto descentraliza o controle. Somos todos “cães de guerra”. Estamos prontos para lutar pela nossa independência e nossa privacidade. Torne-se um de nós, junte-se a nós enquanto planejamos dominar o mundo na Sala de Guerra .
Manifesto Subutai - parágrafo 1.

Maddog mongol
Maddog mongol


A horda está chegando!

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