Marllus
Marllus Cientista da computação, doutorando em educação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

A ciência da paternidade

A ciência da paternidade
A lógica define a forma como se vê.

É isso aí. Pai. Ponto final. Ou seria um recomeço?

Parece que gente nunca sabe ao certo se está sempre preparado, ou se de uma dor nasce um herói, depois de quase 120 noites dessa pontinha de lágrima me descer, aos arrepios daquele ensolarado meio dia.

Vídeos, textos, blogs, vlogs, reels, curadorias, canais no youtube, notas, tags… tudo sobre criar um bebê. Nada sobre como ser pai. O literal aqui não passa de uma ofuscação de uma realidade muito difícil de ‘descortinar’.

Como dito, essas teorias, de onde se tiram deduções prévias, já estavam dadas. Choro de sono, caras e bocas de fome, gritos de alegria ou chupões de dedo de ansiedade. Os manuais se perdem, quanto maior a vontade de abarcar e de se entender todo o universo do que é cuidar de uma pessoa que não come, anda, caga, nem pensa, sem ajuda de alguém. E eu ajudo a completar esse alguém. Ou melhor, nós.

Diferentemente dos pressupostos, aquele olhar desinteressado, quase kantiano, parece dar lugar às vezes a uma sensação de ofuscação; uma mistura entre sono e tédio. E eu começo a identificar, indutivamente (e não intuitivamente), que ele só tá afim de ficar ‘de boa’. Os exemplos se intensificam, e o processo vai caminhando, conforme a lógica na qual a vista se propõe a ver, até que um exemplo quebra a cadeia, o que falseia todos os outros anteriores (culpa do Hume que criou a questão) e deu uma nova informação para interpretação do fenômeno dos olhos esquecidos. Era só uma cagada aprisionada que necessitava de conforto zen na porta de saída.

A criatividade toma conta do meu ser, e as novas hipóteses surgem a cada dia. Aquele chorinho que antes implorava fome, agora se traduz em sono, com um leve decaimento no grave. O agudo que se eleva após o banho, reluz na vontade insana de continuar a bater as pernas na água, mas que uma mamada bem dada, logo após (da forma mais rápida possível) ele se esquece até dos dedinhos tão apetitosos. A todo instante essa chuva de ideias na tentativa de explicar cada pequena ação (o choro, na maioria das vezes) representa a capacidade quase natural de querer utilizar a lógica abdutiva (essa pouco conhecida nos rincões científicos). Mas Peirce concordaria que a suposição criativa, dada um fenômeno anterior e uma vontade, representa um conhecer bem original.

Já falaram por aí sobre a dialética da paternidade. Mas aqui descrevo um pouco uma ciência da paternidade. Ou sobre como, através de métodos, um pesquisador, embebido com sua presença, derrama em diversas situações o conteúdo necessário para tentar entender as coisas a partir de perspectivas que lhe cabem. Enquanto a dialética espera o negativo, a ciência me trás as bases lógicas para se pensar os fenômenos. Talvez nem tenha como fugir disso. Como diria um amigo: somos pura cultura.

Agora sigo errando menos. Os choros vão cessando, as lógicas mudando conforme a oportunidade de melhoria empírica; e os processos estabilizando. Há uma verdade interessante quando se assume a postura de continuar menos errado - do que mais certo - sobre as coisas, principalmente se essa for um filho.

O real é contingente e os recomeços são sempre constantes, mesmo as próximas 120 noites que virão…